“Palavras devem ser doces como brisas, belas como o sol, sobretudo intensas como a tempestade”. (Paula Schaustz)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Contribuições Freudianas sobre o desenvolvimento psíquico e social a partir da sexualidade.



       Além dos estudos sobre o inconsciente, uma das grandes contribuições Freudianas para a Psicanálise foi a tendência de explicar a sexualidade partindo do pressuposto de que esse conceito vai muito além de definições relacionadas somente ao sexo. Em seus estudos Freud também ressaltou que a origem da sexualidade aconteceria em um período anterior à adolescência.

   A partir dessa base teórica, Freud elaborou conteúdos sobre o desenvolvimento psicossexual, considerando que este ocorre desde o início da vida e vai se desenvolvendo de forma gradual e evolutiva, ou seja, por etapas. Essas etapas vão se desenvolvendo com a participação de uma manifestação denominada libido (pulsão sexual). Isso quer dizer que em cada fase de desenvolvimento psicossexual, a libido irá se fixar em determinadas zonas erógena na tentativa de buscar o prazer.

         Nessa perspectiva, pode-se afirmar que as fases de desenvolvimento da libido, que ocorrem desde a infância, vão deixando marcas no indivíduo, o que Freud denominou como “pontos de fixação”. Ademais, quando eventualmente ocorrem conflitos e o desenvolvimento dessas fases não se dá de forma “normal”, acontece a origem dos “pontos nodais” que vão se fixando em determinadas fases, podendo ser retomados em um posterior período de crise. Dessa forma, chegamos ao entendimento de que as fases de desenvolvimento sexual ocorrem na infância e adolescência, mas cada uma delas é capaz de deixar marcas permanentes, fazendo com que a fixação e a regressão a uma fase específica possa ocorrer em qualquer fase da vida.

         De acordo com os estudos de Freud as fases de desenvolvimento da libido são divididas em: fase oral, fase anal, fase fálica, período de latência e fase genital.

         A fase oral ocorre desde o nascimento até por volta dos dois anos de idade. O órgão denominado como zona erógena é a boca e o prazer pode ocorrer através da amamentação e do uso da chupeta, por exemplo. Nesse caso podemos perceber que indivíduos adultos com hábitos como fumar ou beber em excesso, por exemplo, podem ter ponto de fixação na fase oral, uma vez que a boca é o órgão que recebe o investimento libidinal e por consequência as pulsões de satisfação e  prazer.

         A fase anal ocorre entre dois e três anos de idade e os esfíncteres de micção e evacuação apresentam-se como zona erógena. Nessa fase a criança encontra prazer relacionado à função excretora, alcançando assim o controle de si mesmo. Adultos com sentimentos ambivalentes, altamente manipuladores, competidores e que tem uma intensa necessidade de controle podem estar fixados nessa fase.

         A fase fálica, por sua vez, ocorre de três anos até por volta dos seis anos de idade e possui como zona erógena a parte genital, majoritariamente do órgão masculino que possui uma representação simbólica de poder. Essa fase envolve a curiosidade sobre as partes genitais e também aparece envolta em um conjunto de desejos amorosos que as crianças possuem em relação aos seus pais. Freud denominou esse processo como “Complexo de Édipo” e se por um lado a sua resolução pode possibilitar o ingresso na genitalidade adulta, por outro, caso haja conflito na passagem dessa fase, o indivíduo pode apresentar uma fixação nas fases anteriores, o que pode ocasionar em distintas psicopatologias.

         O período de latência ocorre de seis anos de idade até a chegada da puberdade. Nessa fase a libido está concentrada no desenvolvimento social, na experiência e vivência com outras crianças. Nesse período a criança esquece experiências subjetivas relacionadas às fases anteriores e fica exposta e regras morais e sociais.

         Por fim, a fase genital ocorre a partir da puberdade e adolescência. Nessa fase ocorrem mudanças anatômicas e fisiológicas e os adolescentes revivem de certa forma o complexo edipiano, muitas vezes gerando conflitos contra seus pais na tentativa de construírem sua própria identidade.

         Vale ressaltar que para Freud as fases de desenvolvimento psicossexuais não são necessariamente fixas e/ou lineares. Como estão atreladas às vivências e experiências únicas e particulares de cada ser humano elas podem apresentar avanços e retrocessos, constituindo assim um modo de funcionamento específico para cada pessoa. No entanto, essas fases deixam marcas profundas no psiquismo humano que podem gerar diferentes modos de interagir com o mundo. Para explicar essas organizações internas, Freud elencou três mecanismos de organização psíquica as quais denominou como: neuroses, psicoses e perversões. A ideia central seria a de que cada pessoa se estruturaria sobre uma dessas organizações, no entanto, levando em consideração a complexidade da psique humana, isso não exime o fato de que uma pessoa possa apresentar também traços de outro mecanismo de organização psíquica.

         Ao falarmos sobre o neurótico, podemos afirmar que seu grande conflito está instalado entre a vontade de obter satisfação/prazer e a impossibilidade de realizar seu desejo, uma vez que possui o mecanismo de defesa do ego funcionando como uma autocensura. Esse conflito psíquico pode causar sofrimento e alterações comportamentais, como inibições, fobias, etc. Podemos afirmar, de certo modo, que a neurose em certo nível e em graus diferenciados, está presente em todos os indivíduos.

         Por outro lado, as psicoses apresentam um conflito entre o EGO e a realidade e seus eventos traumáticos estão ligados às fases de desenvolvimento psicossexuais mais primitivas. As psicoses propriamente ditas podem se manifestar como esquizofrenia, paranoica ou melancolia.

         Por fim, temos as perversões, que para Freud se referem a um modo de se relacionar com o mundo e/ou alcançar determinada obtenção de prazer que são repudiados por regras ou leis sociais. Diferente do neurótico, o perverso não se reprime. Ao contrário, ele realiza seu desejo sexual sem nenhum pudor ou sentimentos de remorso e arrependimento.

         Nesse sentido, podemos concluir que para Freud o conceito de sexualidade será definido para muito além do que entendemos como ato sexual. Freud deu muita importância para esse tema, uma vez que para ele as fases de desenvolvimento sexual, assim como suas pulsões e relações com a libido, podem explicar diversos fatos psíquicos e sociais relacionados à psique humana, revelando assim a complexidade e os mistérios mais profundos da mente.